Data: 10 de novembro de 2016
Date: November 10th, 2016
Hora: 14h
Time: 2:00 PM
Local (Room): Sala de Defesa, Bloco O, Prédio da Pós graduação, Instituto de Biologia, Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil
Sociedade e cultura entre baleias cachalotes de Galápagos
Utilizando cachalotes
como modelo, eu exploro a interação entre sociedade e cultura animal.
Cachalotes vivem em sociedades multiníveis, caracterizadas por cooperação e
aprendizado social. As fêmeas vivem em unidades sociais quase permanentes e se
comunicam usando “codas”, padrões estereotipados de cliques. Unidades
agrupam-se temporariamente com outras unidades que utilizam codas similares,
formando clãs vocais – baleias da mesma população com dialetos de coda
distintos. Especificamente, eu investigo as causas, consequências e
estabilidade temporal de clãs de cachalotes simpátricos no Oceano Pacífico. Em um
lado desta interação sociedade-cultura, cultura afeta a sociedade dos
cachalotes ao criar clãs vocais.Com modelos baseados em agentes que imitam
a dinâmica de populações empíricas, eu testei múltiplos mecanismos de
transmissão de coda – aprendizado individual, herança genética, aprendizado
social puro e enviesado. Clãs com diferentes dialetos surgem apenas quando cachalotes
aprendem codas uns com os outros, em conformidade com os indivíduos mais
similares ao seu redor. No outro lado da interação, a associação a um clã tem
consequências para os indivíduos. Utilizando um conjunto de dados de longo
prazo, eu encontrei diferenças nos comportamentos sociais entre clãs: membros
de um clã mergulham mais sincronicamente e tem relações mais homogêneas e mais breves
que membros de outro clã. Deriva cultural pode explicar tal divergência, com cachalotes
replicando normas sociais dentro do clã que pertencem. Finalmente, eu
considerei a estabilidade temporal dos clãs estudando cachalotes de Galápagos
ao longo de 30 anos. Eu registrei uma completa substituição populacional
levando à uma mudança cultural: cachalotes estudados em 2013-2014 não pertencem
aos dois clãs que utilizavam a área entre 1985-1995; ao invés disso, eles são
membros de clãs encontrados em outras áreas do Pacífico. Concluindo, cultura
originou clãs em cachalotes, o que por sua vez determina comportamento social,
em uma relação de duas vias que é estável ao longo do tempo, mas dinâmica no
espaço. Essas descobertas reforçam a evidência de cultura entre cachalotes,
destacando que processos determinando flexibilidade comportamental em humanos –
transmissão de informação através de aprendizado social enviesado e deriva
cultural – também opera em populações animais não-humanas.
Mauricio Cantor possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP, 2008), mestrado em Ecologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC, 2011) e doutorado em Biologia pela Dalhousie University
(Halifax, NS, Canadá). Atualmente é pós-doutorando no Departamento de Ecologia
e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina e atua como pesquisador
dos grupos de pesquisa do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LAMAq,
Universidade Federal de Santa Catarina) e Interfaces Humano Não-Humano (INUMA,
Universidade Federal de Sergipe). Tem experiência nas áreas de Ecologia de
Populações e Comunidades, Biologia Comportamental e Sociobiologia,
Comportamento Animal e Análise de Dados Biológicos.
Society and culture among Galápagos sperm whales
Using sperm whales as a model, I explore the interplay between animal
society and culture. Sperm whales live in multilevel societies, characterized
by cooperation and social learning. Females live in nearly-permanent social
units and communicate using codas, stereotyped patterns of clicks. Units
temporarily group with other units that use similar codas, forming vocal
clans—whales of the same population with distinct coda dialects. Specifically,
I investigate the causes, consequences and temporal stability of the sympatric
sperm whale clans in the Pacific Ocean. On one side of the society-culture
interplay, culture affects sperm whale society by creating the vocal clans.
With agent-based models mimicking the dynamics of empirical populations, I
tested multiple mechanisms of coda transmission—individual learning, genetic
inheritance, pure and biased social learning. Clans with different dialects
emerge only when whales learn codas from each other, conforming to the most
similar individuals around them. On the other side of the interplay, clan
membership has consequences for individual whales. Using a long-term dataset, I
found differences in social behaviour among clans: members of one clan dived
more synchronously and had more homogeneous, briefer relationships than the
other. Cultural drift may explain such divergence, with whales replicating
within-clan social norms. Finally, I considered the temporal stability of clans
by studying the Galápagos population over 30 years. I documented a complete
population turnover leading to cultural shift: sperm whales studied in
2013-2014 do not belong to two clans that used the area between 1985-1995;
instead they are members of clans previously found in other areas of the
Pacific. In conclusion, culture gave rise to sperm whale clans, which in turn
drives social behaviour, in a two-way relationship that is stable over time but
dynamic over space. These findings strengthen the evidence for culture among
sperm whales, highlighting that processes driving behavioural flexibility in
humans—information transmission through biased social learning and cultural
drift—also operate in non-human animal populations.
Mauricio Cantor received his BSc degree in Biology at
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, Brazil) in 2008, MSc degree
through the Ecology Graduate Program at Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC, Brazil) in 2011, and a PhD from the Department of Biology, Dalhousie
University (Canada) in 2016. Currently he acts as a researcher at the Aquatic
Mammals Lab (LAMAq, Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil) and The
Human Non-human Interface (INUMA, Universidade Federal de Sergipe, Brazil). He has experience on population and community ecology, behavioral ecology,
socioecology, animal behavior and biological data analyses.